José Plácido de Castro: o gaúcho que fez do Acre Brasil
- ALMEP Paraíba'
- 9 de set.
- 4 min de leitura
Sidiclei Silva1
Walber Rufino2
“Heróis não são perfeitos. São humanos que ousaram estar no lugar certo, quando a História os chamou.”

Era 9 de setembro de 1873. Em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, nascia José Plácido de Castro. Filho de uma família moldada pelo peso da Guerra do Paraguai. Quem poderia imaginar que esse menino gaúcho que cresceu sob disciplina rígida e o silêncio das tradições militares e tão distante da Amazônia, quando se tornasse homem atravessaria o país para inscrever seu nome numa das páginas mais decisivas da História do Brasil?
Plácido não seguiu um caminho linear. Foi agrimensor (desenhava plantas de cidades), viajou pelo Nordeste e trabalhou como seringueiro. Era um andarilho, sempre em busca de algo maior. Até que a vida o levou para o Acre, e ali encontrou não só um território a defender, mas uma causa capaz de dar sentido à sua existência. É curioso como o destino, às vezes, escolhe por nós. E, ao pesquisarmos sobre a vida de Plácido, parece que, em cada curva inesperada da vida, havia uma preparação para que ele tivesse um encontro com a História.
E foi assim, em 1902. Plácido, com apenas 28 anos, já enraizado no coração da Amazônia, foi chamado por um ideal maior do que ele mesmo. Os seringueiros acreanos clamaram por sua liderança contra o domínio boliviano, e ele disse sim. Não hesitou. Como se fosse guiado por uma convicção que não cabia em mapas nem em fronteiras, transformou homens comuns em combatentes.
O ataque a Xapuri, em 6 de agosto daquele ano, não foi apenas uma vitória militar. Foi a centelha que acendeu uma chama nacional. Canoas frágeis tornaram-se navios de guerra, trilhas de floresta se converteram em campos de batalha, e seringueiros anônimos, até então invisíveis, assumiram o papel de soldados da Pátria.
Meses de lutas abriram caminho para a diplomacia. Em janeiro de 1903, o Tratado de Petrópolis selou a incorporação do Acre ao Brasil. Plácido, o gaúcho que se fizera amazônida, assumiu a presidência provisória do novo Estado. Tentou organizar leis, finanças, instituições. Mas se na guerra sua liderança era incontestável, na política encontrou resistências que não se vencia com coragem. Interesses de elites econômicas, sobretudo ligadas à borracha, o afastaram do poder no mesmo ano. Quantos heróis, afinal, já não tombaram não pelo inimigo de fora, mas pelas intrigas de dentro?
De volta ao seringal Benfica, mergulhou em disputas de terras e negócios. Até que, em 1908, sua vida terminou cedo, aos 34 anos, em circunstâncias violentas e misteriosas. Herói? Vilão? Ambicioso? Idealista? Talvez tudo isso junto. Porque homens como ele não cabem em rótulos estreitos.
Mais de um século depois, sua memória permanece. Há monumentos, museus, praças e até um município que carrega seu nome. Porém, mais importante que as homenagens é a pergunta que sua história ainda nos impõe: o que seria do Acre sem José Plácido de Castro? E, mais ainda, o que seria do Brasil sem o Acre?
Plácido foi grande porque foi humano. Foi feito de coragem e contradições, de ousadia e limites. Um gaúcho que se fez amazônida, um andarilho que encontrou no Acre o palco de sua missão. Sua vida curta nos lembra que a História não é feita de perfeições, mas de escolhas. E que cada escolha, mesmo nas mãos de um homem comum, pode mudar o destino de uma nação inteira.
E, quase oitenta anos depois, em Xapuri, outra voz se levantou. Chico Mendes, seringueiro e ambientalista, fez do mesmo chão uma nova trincheira. Se Plácido lutara para que o Acre fosse Brasil, Chico lutaria para que o Brasil entendesse que o Acre é também floresta, vida, futuro. Ambos tombaram cedo, ambos nasceram gigantes na memória coletiva. Xapuri, pequena no mapa, imensa na História, continua a nos lembrar que a coragem tem endereço.
Hoje, 9 de setembro de 2025, a diretoria da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba – ALMEP, por meio de seus acadêmicos faz um minuto de silencio para saudar a vida, o legado e sobretudo, a memória de Placido de Castro.
Fonte Bibliográfica
1. DBpedia. José Plácido de Castro. Acesso em 2025.
2. Portal Amazônia. A história de José Plácido de Castro e sua importância para o Acre. 2025.
3. G1. Nem herói intocável, nem vilão – quem foi Plácido de Castro. 06/08/2021.
4. BBC News Brasil. A esquecida República do Acre, proclamada há 125 anos. 06/07/2024.
5. LUZ, Joana Cristina; ABREU, Carlos. Amazônia Republicana: Plácido de Castro e a Revolução Acreana. UFAC, 2019.
6. MAUSS, Arnaldo. O Acre de Plácido: ensaio histórico. UFRJ, 2018.
________________________
1 Sidiclei Silva de Araújo – 1º Sargento da Polícia Militar do Acre, especialista em Educação a Distância, palestrante e autor na área de Segurança Pública. É Acadêmico Fundador da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba (ALMEP), ocupante da Cadeira nº 06, que tem como patrono José Plácido de Castro.
2 José Walber Rufino Tavares – Coronel da Reserva do Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba, escritor, pesquisador e palestrante em história militar e memória institucional. É Presidente da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba (ALMEP) e Vice-Presidente da ALMEBRAS, ocupando a Cadeira nº 01.



Comentários