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O Tenente-médico das guerras e da política

Uma homenagem aos 163 anos do nascimento do Governador Camilo de Holanda


"Há homens que não cabem em uma só farda: vestem a de soldado, a de médico e a de estadista."

Walber Rufino1



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A madrugada de 10 de setembro de 1862 trouxe ao velho casario da Cidade da Paraíba, capital da então Paraíba do Norte, um menino de nome comprido: Francisco Camilo de Holanda. Filho de militar, sangue de quartel correndo nas veias, mas alma voltada também para o bisturi e a política. Cresceu ouvindo o compasso dos clarins e vendo o reflexo do sol nas águas do Sanhauá, rio que abraça a cidade como um guardião silencioso.


Muito cedo buscou os caminhos do mar, aluno da Escola de Aprendizes Marinheiros, e dali seguiu para a Faculdade de Medicina da Bahia. Foi em Salvador que defendeu, ainda aos 24 anos, uma tese sobre as doenças que ameaçavam o nascimento da vida — ironia do destino: passaria a vida tentando salvar existências já feridas pela guerra e pela miséria.


erviu ao Exército, mas não apenas com armas. Foi tenente-cirurgião, cuidando dos homens feridos na Revolta da Armada (1893-1894, um levante da Marinha contra os dois primeiros presidentes republicanos: Deodoro e Floriano Peixoto) e na Guerra de Canudos (1896-1897, no sertão baiano, quando o Exército enfrentou os seguidores do beato Antônio Conselheiro). Esteve em tantos outros campos onde a pátria sangrava. Escapou, por sorte ou providência, de acompanhar Moreira César na expedição que seria dizimada em Canudos — como se a história ainda tivesse outros planos para ele.

Camilo de Holanda carregou consigo um jeito sereno e prático. Quando deixa a caserna para seguir o Parlamento, foi deputado e presidente de Estado. E quando assumiu a Paraíba em 1916, trouxe na bagagem o olhar clínico de quem entende que uma cidade também pode adoecer. Seu remédio foi ousado: abrir avenidas, plantar praças, iluminar ruas, reconstruir pontes, erguer escolas. Quis higienizar e embelezar a capital, como quem prescreve sol e ar puro para um paciente abatido.


Nasciam, sob seu governo, a Praça Aristides Lobo, a Avenida Epitácio Pessoa, o Palácio da Justiça. Os velhos becos ganharam nomes novos, como se a Cidade da Paraíba começasse a vestir roupa de cidade moderna. Enquanto isso, no interior, o algodão — ouro branco do sertão — recebia incentivos para fortalecer famílias e economias.


Mas Camilo não foi só construtor de praças e estradas. Criou também, pelo Decreto nº 844 de 1917, a Seção de Bombeiros, plantando a semente do Corpo de Bombeiros que hoje salva tantas vidas. Esse gesto, discreto no papel, foi imenso no tempo.


Ao final do mandato, em 1920, passou o governo para Sólon de Lucena, como quem entrega a casa arrumada. Viveu ainda anos no Rio de Janeiro, longe da terra natal, até que em 1946, aos 84 anos, a vida se despediu dele.


Hoje, ao lembrarmos seus 163 anos de nascimento, vemos que Camilo de Holanda não deixou apenas memória: deixou ruas que ainda atravessamos, praças onde crianças ainda correm, escolas onde gerações aprenderam a ler. Deixou o exemplo de um homem que soube ser médico, militar e político sem nunca se afastar do que era essencial: servir.


O apito já não chama mais a tropa, mas o nome de Camilo ainda ecoa nas praças, avenidas e nas páginas da nossa história. 1. Walber Rufino – Coronel Veterano do CBMPB, Acadêmico Fundador da ALMEP (Cadeira nº 01) e atual Presidente da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba.


 
 
 

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