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QUANDO O BRASIL AINDA ERA PROJETO, ELE JÁ ERA VISÃO

José Bonifácio, 302 Anos de seu nascimento


 

Toda casa precisa de um alicerce. Todo país, de um nome que o funde. Não é por ter vencido que José Bonifácio é grande. É por ter sonhado com um Brasil que ainda lutamos para realizar.


Há silêncios que pesam mais que gritos. E há despedidas que, mesmo discretas, ecoam por séculos.


No dia 6 de abril de 1838, um homem foi enterrado em Niterói. Sem homenagens oficiais. Sem flores do Estado. Sem o reconhecimento que teria sido justo. José Bonifácio de Andrada e Silva, o mesmo que sonhou a liberdade do Brasil antes que o país a desejasse plenamente, partia em silêncio.


Foi-se o corpo. Ficou a semente.

Bonifácio não queria só romper com Portugal. Queria libertar o Brasil de suas amarras internas. Enxergava a escravidão como um erro profundo — moral, social, espiritual. Propôs sua extinção com cuidado e dignidade: passo a passo, sim, mas com responsabilidade e alma. Queria escolas onde antes havia senzalas. Queria terras nas mãos de quem só conhecia o arado, mas não o direito. Queria cidadania, e não apenas liberdade escrita nos papéis.

Não foi ouvido. Seu plano foi arquivado como se fosse incômodo demais para o tempo em que vivia. E, talvez por isso, morreu cercado de ausências. Não a ausência de grandeza — essa ele tinha. Mas a ausência de aplausos, de reconhecimento, de reparo.


Hoje, quando olhamos para o Brasil, tantas vezes cansado, dividido, ainda pedindo por justiça, nos perguntamos: o que teria sido do nosso país se tivéssemos escutado Bonifácio? Se tivéssemos, como ele queria, educado antes de punir, integrado antes de marginalizar, plantado antes de explorar?

Essa pergunta não é um lamento, mas um convite. Porque há sonhos que sobrevivem à morte, e há vozes que continuam falando mesmo quando o mundo escolheu o silêncio.


Bonifácio foi um desses homens que amaram o país com firmeza e com doçura. Um desses que acreditaram que a construção da pátria começa na justiça e floresce no cuidado. Por isso, não nos cabe apenas lembrar sua biografia. Cabe-nos acolher sua visão. Cuidar de suas ideias como quem rega um jardim que ainda pode florescer.


“O que plantei com sangue e suor, talvez floresça depois de mim”, escreveu.

E talvez seja exatamente agora a nossa hora de cultivar esse depois.

 

Homenagem da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba a José Bonifácio de Andrada e Silva, pelos 302 anos de nascimento.

 

Em memória, respeito e compromisso com o Brasil que ele tanto sonhou.

 

Walber Rufino

Historiador, observador do tempo presente e defensor da memória como ferramenta de equilíbrio institucional.

 
 
 

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