Sampaio, quando a coragem veste farda e alma
- ALMEP Paraíba'
- 24 de mai.
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Há nomes que não pertencem apenas à história — pertencem ao coração de uma nação. Antônio de Sampaio é um desses nomes. Nasceu em 24 de maio de 1810, em Tamboril, Ceará, no ventre seco dos sertões, onde cada pedra carrega o peso da luta e cada homem aprende cedo que a vida não oferece facilidades. Ali, no silêncio da terra rachada, cresceu um menino que o tempo não apagaria.
Sampaio não nasceu herói. Tornou-se. Tão simples quanto a enxada do pai e tão puro quanto a fé da mãe, entrou no Exército aos 20 anos, ainda desconhecendo que sua biografia se entrelaçaria para sempre com a própria essência da Pátria. Alistou-se como Praça, galgou degraus sem atalhos — alferes, tenente, capitão… cada promoção marcada não por protocolos, mas por méritos de quem não arredava o pé diante do perigo.
Sua vida foi um compêndio de batalhas e de fé. Icó, Cabanagem, Balaiada, Farrapos, Praieira, Paissandu, Monte Caseros — em cada canto do território brasileiro onde a liberdade foi ameaçada, lá estava ele, firme como o chão nordestino que o forjou. Mas foi na Guerra da Tríplice Aliança que Sampaio viveu — e sofreu — seu maior capítulo.
No comando da lendária 3ª Divisão de Infantaria — a Encouraçada — Sampaio transformou homens comuns em guerreiros imortais. Seu rigor era de aço, mas seu coração pulsava pelo bem maior: a Pátria. “Para quem quiser!”, ordenava o toque após marchas cansativas, e seus batalhões, incansáveis, erguiam-se para treinar novamente. Sabia que a vitória começa antes da batalha; sabia que disciplina salva vidas quando o caos do combate toma conta.
E então veio Tuiuti.24 de maio de 1866 — o dia que deveria ser só seu aniversário tornou-se o dia em que entregou tudo. Três ferimentos, dores que o tempo não curou. Mas não foi derrubado pela violência; foi elevado pela coragem. Mesmo ferido, mesmo sangrando, comandou enquanto pôde, até que a força física o abandonasse — mas sua alma nunca fraquejou.
Nas semanas seguintes, a bordo do vapor hospital Eponina, a luta era outra: agora contra a morte. E, mesmo assim, morreu como viveu: sem alarde, sem reclamar, apenas cumprindo a última parte de sua missão. Morreu longe da terra natal, mas seu espírito nunca mais abandonou o Brasil. Está nos campos onde os infantes marcham, nas bandeiras que tremulam com orgulho e nas memórias que o Exército cultiva com reverência.
Em 1962, veio o reconhecimento formal: Sampaio, o homem que um dia foi só Praça, tornou-se o Patrono da Infantaria Brasileira. Mas ele nunca precisou de decretos para ser eterno. Seu nome está gravado onde mais importa: na pele, no fuzil e no coração de cada soldado que entende que servir é mais do que um dever — é uma vocação.
Sampaio é o retrato fiel do guerreiro brasileiro: disciplinado e bravo, exigente e leal. Não há infantaria sem Sampaio, porque ele é a própria alma da tropa que marcha na frente, que abre caminho e que protege, custe o que custar.
Homenagem da Diretoria Executiva da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba dedica esta homenagem aos militares do Exército Brasileiro e das Forças Públicas Terrestres, da Arma de Infantaria, de ontem, hoje e amanhã. Homens e mulheres que, à imagem e semelhança de Sampaio, mantêm viva a chama da honra, da bravura e do sacrifício silencioso que sustenta nossa liberdade. Linha do Tempo: A Jornada de Antônio de Sampaio
24/05/1810 – Nasce em Tamboril, Ceará, filho de Antônio Ferreira de Sampaio e Antônia Xavier de Araújo.
1830 – Alista-se como Praça no Exército Imperial.
1832 – Participa da campanha em Icó (CE), sua primeira experiência de combate.
1836 – Combate na Cabanagem (PA).
1838 – Atua na Balaiada (MA); é promovido a Alferes e, no mesmo ano, a Tenente.
1843 – Promovido a Capitão; integra as forças na Guerra dos Farrapos (RS).
1849-1850 – Engaja-se na Revolta Praieira (PE).
1851-1852 – Participa da campanha contra Oribe e Rosas, destacando-se nas batalhas do Uruguai e na histórica Monte Caseros (Argentina).
1852 – Reconhecido por bravura, é promovido a Major.
1855 – Ascende a Tenente-Coronel.
1861 – Promovido a Coronel do Exército Brasileiro.
1864 – Lidera a conquista de Paissandu (Uruguai), consolidando sua fama de estrategista e comandante respeitado.
1865 – Promovido a Brigadeiro, tornando-se o mais destacado comandante da 3ª Divisão Encouraçada na Guerra da Tríplice Aliança. Participa ativamente da rendição de Uruguaiana; ao lado de autoridades imperiais, testemunha a resolução da Questão Christie.
1866 – No dia de seu aniversário, é gravemente ferido em combate na Batalha de Tuiuti, marco heroico da Infantaria Brasileira. Em 6 de julho
morre a bordo do vapor hospital Eponina, a caminho de Buenos Aires, após 44 dias de luta para sobreviver aos ferimentos.
1866-1871 – Seus restos mortais passam por translados solenes, primeiro sepultados na Recoleta (Buenos Aires), depois levados ao Brasil para repousar em local de honra.
1962 – É consagrado Patrono da Infantaria Brasileira pelo Decreto 51.429, em reconhecimento eterno ao seu legado.
Hoje – Celebrado como símbolo máximo da bravura e da disciplina da Arma de Infantaria, inspiração para gerações de militares.
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